ALTA NOS CASOS E MAIOR LOTAÇÃO DE UTIs INDICAM TERCEIRA ONDE DA COVID BATENDO A PORTA

Mais casos, taxa de contaminação crescente em alguns estados, como São Paulo e Minas Gerais, e maior ocupação de leitos de UTI indicam um recrudescimento da pandemia da Covid-19 no Brasil. Um dos principais dados é a média de diagnósticos por dia, que está acima dos 65 mil positivos, acréscimo de 8% em 14 dias. O avanço em registros leva a risco maior de contaminação e de internação, ampliando a pressão sobre o sistema e a possibilidade de óbitos.
Para definir como a doença vai evoluir, se considera entre o contágio e a possível morte de um paciente no período de até seis semanas. "O aumento do número de casos vai ser precedido obrigatoriamente pelo aumento do número de mortes", explica Alexandre Naime Barbosa, chefe do setor de infectologia da Unesp de Botucatu (SP) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Desde 5 de maio, a 19 dias consecutivos, a média móvel de novos registros aumenta a cada 24 horas. Só nessa terça, houve mais 74.845 relatos positivos, equivalentes a 52 por minuto. Para especialistas, só não há um reflexo maior no número de vítimas, que ainda assim tem média acima de mil desde janeiro, por causa da faceta mais jovem da pandemia este ano.
Segundo o Observatório Covid-19 da Fiocruz, pela primeira vez desde o início dos casos de Covid-19, a mediana de idade nas internações está abaixo dos 60 anos. Com isso, exceto nos estados do Nordeste, a taxa de mortalidade pela doença caiu. Os mais jovens tendem a morrer menos, só que pressionam o sistema por ficar mais tempo internados. "Talvez não seja como já vimos (chegar a um número diário acima de 3 mil mortos), porque o jovem adoece menos, mas também adoece", afirma o médico da Unesp.
E, além dos registros diretos de Covid, há os de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Segundo a Fiocruz, oito das 27 unidades da federação apresentam sinais de crescimento de casos. As síndromes respiratórias são, neste momento, na grande maioria, causadas por infecções pelo SARS-CoV-2.
Leitos
O recrudescimento ocorre concomitantemente com o avanço das taxas de ocupação de leitos de UTI para adultos com Covid-19. De maneira geral, o Nordeste e o Centro-Sul apresentaram piora nos últimos dias. Sete estados têm taxas de ocupação iguais ou superiores a 90%: Piauí (91%), Ceará (94%), Rio Grande do Norte (96%), Pernambuco (97%), Sergipe (93%), Paraná (95%) e Santa Catarina (95%).
No Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal tiveram as maiores altas. Ao lado de Mato Grosso, estão em estado crítico, mas inferiores a 90%.
No Sul do país, a mesma tendência é observada, com Paraná e Santa Catarina entre os piores estados. O Rio Grande do Sul permanece na zona de alerta intermediário. No Sudeste, Rio e Minas têm a mesma classificação, com piores índices.
São Paulo estava em estágio intermediário na ocupação de leitos de UTI, com taxa de 79%. Dados da Secretaria de Estado da Saúde, desta terça-feira, porém, colocam esse índice em 80,5%, o que repõe os paulistas no mesmo patamar das piores unidades da federação.
Na capital paulista, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, seis hospitais da administração pública ou com leitos contratados estão com 100% de seus leitos ocupados. E a rede particular também já se preocupa. O Hospital Israelita Albert Einstein se prepara para a abertura de 60 novos leitos na primeira quinzena do próximo mês como medida preventiva. Há duas semanas, o hospital tinha 114 pacientes em leitos de Covid. Nesta terça, eram 168, alta de 47%. Já a taxa de ocupação geral, que inclui pacientes sem Covid, estava em 103%. No Sírio Libanês, o aumento na segunda, na comparação com o dia 17, foi de 23%, saltando de 141 casos para 174 em uma semana.
Infecção e futuro
No Estado de São Paulo, hoje a pior região em relação à taxa média de transmissão da doença está em São João da Boa Vista, com 1,63. Ou seja, cada cem pessoas contaminadas transmitem o vírus para outras 163. Franca, Grande São Paulo, Araçatuba e São José do Rio Preto completam as cinco regiões com as mais altas taxas de transmissão. Em todo o Estado, a média é de 1,3.
Para Barbosa, a terceira onda da doença vai chegar e sua força está condicionada à forma como a flexibilização das atividades econômicas e o respeito ao isolamento social vai se dar. "Em algumas cidades de São Paulo, como Ribeirão Preto, esse efeito já está sendo sentido (a cidade fechou o comércio, por estar com 96% de ocupação de leitos de UTI)", diz.
Nova variante P.4  no interior de SP
Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) anunciaram nessa  terça-feira, 25, a descoberta de uma nova variante do coronavírus, em amostras coletadas no município de Porto Ferreira, no interior paulista. Batizada como P.4, por derivar da mesma linhagem que deu origem à P.1, identificada inicialmente em Manaus, a nova cepa já foi encontrada em amostras de outros 20 municípios do Estado de São Paulo.
"A primeira coisa que percebemos foi a mutação L452R, na proteína spike (espícula) do vírus. Então, analisamos outras sequências já decodificadas do banco de dados e verificamos que esta poderia ser uma nova variante", explica Cintia Bittar, pesquisadora virologista da Unesp e membro da Rede Corona Ômica BR.
Ela conta que, após identificada a mutação no último dia 4, a amostra foi submetida à análise em uma plataforma internacional, que reúne sequenciamentos realizados no mundo todo com o objetivo de identificar e monitorar o surgimento de novas variantes. Após fazerem novas investigações, o grupo da Unesp identificou que essa nova cepa vinha da B.1.1.28, a mesma linhagem que deu origem à P.1, identificada inicialmente em Manaus.
Entre o último dia 4 e esta terça-feira,25, a variante foi batizada como P.4 e encontrada em amostras de outros 20 municípios do Estado de São Paulo. De acordo com Cintia, pelo menos a cidade de Porto Ferreira já estaria com essa cepa circulando livremente.
"Comparamos a nossa amostra com outras sequências do banco de dados e já existia essa variante em outras cidades de São Paulo" explica a pesquisadora. Ela também afirma que a P.4 apresenta alterações similares à B.1.617, identificada inicialmente na Índia. "É a mesma mutação em uma região importante do vírus, também encontrada na variante indiana, apesar de elas não estarem relacionadas, e que causa uma redução no reconhecimento do vírus pelos anticorpos."
Cíntia frisa que ainda é cedo para afirmar se a P.4 é mais transmissível ou letal do que o vírus original, e afirma também que, até o momento, as vacinas disponíveis já apresentaram alguma eficácia contra as variantes descobertas, mas alerta: "Estamos vendo ainda que a circulação da variante está aumentando em Porto Ferreira. Essa é uma mutação considerada importante".
De acordo com a pesquisadora, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCIT) e a Prefeitura de Porto Ferreira foram informados sobre a descoberta no último dia 4. "Nosso objetivo é identificar as mutações no começo e tentar evitar que essa variante esteja no mundo inteiro, como aconteceu com a P.1. Se esperarmos para decidir se ela é ruim ou não, pode ser tarde demais."

Postar um comentário

Post a Comment (0)

Postagem Anterior Próxima Postagem