᥀šŸ”„CONSTRUƇƃO DE UMA CANOA DE MADEIRA᥀šŸ”„

Uma vez terminada a construĆ§Ć£o do caiaque oceĆ¢nico de madeira, e tendo como pano de fundo prazer que foi realizar esse projeto, comecei a pensar em qual seria o prĆ³ximo desafio. Baseado nas experiĆŖncias de viagens e remadas anteriores, pareceu-me natural que fosse a construĆ§Ć£o de uma canoa, e comecei uma anĆ”lise dos projetos disponĆ­veis no mundo.

Escolha do modelo

Quando se precisa escolher uma canoa, se quer um pouco de tudo (aliĆ”s, como em qualquer decisĆ£o...). Creio que o melhor ponto para comeƧar Ć© tentar definir o uso que se quer fazer.

No meu caso, com certeza nĆ£o quero uma canoa para Ć”guas brancas (rafting). O uso serĆ” principalmente para rios mais bem comportados, e pequenas, mĆ©dias e grandes viagens (1 dia, final de semana e mĆ­nimo de 1 quinzena de dias, respectivamente).

Portanto a questĆ£o da manobrabilidade nĆ£o Ć© tĆ£o importante. Apenas o necessĆ”rio para vencer as curvas de rios, mais ou menos estreitos. E, apesar de ter um grau de manobrabilidade confortĆ”vel, conseguir, ao mesmo tempo, ter um bom desempenho em manter a direĆ§Ć£o, sem necessidade de constantes correƧƵes. No entanto, a questĆ£o do desempenho hidrodinĆ¢mico torna-se importante, jĆ” que, sobretudo para grandes viagens, a eficiĆŖncia Ć© um aspecto de conforto, no mĆ­nimo.

Esses requisitos definem um casco com pouco “rock”, ou seja, com pouco abaulamento no sentido longitudinal. TambĆ©m, por uma questĆ£o de eficiĆŖncia hidrodinĆ¢mica e tendo em vista o uso para longas viagens, se impƵe um comprimento de pelo menos 5 m. Em outro post, mencionarei a questĆ£o de eficiĆŖncia hidrodinĆ¢mica e comprimento da embarcaĆ§Ć£o.

Portanto uma canoa de pelo menos 5 m atende aos requisitos de ter um bom desempenho hidrodinĆ¢mico e ser adequada para longas viagens (o que significa capacidade de carga).

Uma canoa solo, ou seja, remada sempre por um sĆ³ remador, tem uma largura de boca menor do que uma canoa tandem (para, pelo menos 2 remadores) e eficiĆŖncia maior. No entanto limita seu uso para viagens de um dia ou fim de semana, jĆ” que, nessas circunstĆ¢ncias, em geral, se estĆ” acompanhado.

ApĆ³s uma exaustiva anĆ”lise dos planos disponĆ­veis na Internet, decidi-me por uma canoa desenhado por Steve Killing (http://www.stevekilling.com/).

Uma particularidade que me atraiu neste projeto Ć© o fato da canoa ter o casco assimĆ©trico. Ou seja, a parte mais larga da canoa nĆ£o estĆ” no meio do comprimento, mas um pouco para trĆ”s. Isso, em princĆ­pio, favorece o desempenho. De toda maneira gostei desse projeto e decidi construĆ­-lo. No fim, as decisƵes serĆ£o sempre feitas na base do “porque sim” ou do “porque gostei”.


Processo de construĆ§Ć£o

O processo de construĆ§Ć£o Ć© similar ao do caiaque, ou seja, por strip building. A grande diferenƧa Ć© que hĆ” somente o casco para se construir. NĆ£o hĆ” o deck do caiaque, que toma um grande tempo de construĆ§Ć£o. Portanto a expectativa Ć© de que o processo todo seja bem mais rĆ”pido.

Com relaĆ§Ć£o ao tempo de construĆ§Ć£o, tanto na canoa quanto no caiaque Ć© um dado muito relativo. Afinal a construĆ§Ć£o Ć© feita aos poucos, no final de alguns dias, Ć s vezes ao longo de um fim de semana mais chuvoso... DifĆ­cil dizer. A construĆ§Ć£o da canoa, sem muita urgĆŖncia, me tomou um ano.


Madeira

Decidi construir a canoa em caixeta, com detalhes em cedro, que seria o inverso do feito no caiaque de madeira (ver post respectivo). Como as curvaturas do casco de uma canoa sĆ£o menores do que as de um caiaque (casco ou deck), preferi utilizar ripas de mesma espessura (6 mm), mas de largura maior (19 mm). Todas as ripas foram usinadas com perfil cĆ“ncavo-convexo, como no caso do caiaque.


A estrutura sobre a qual o casco serĆ” construĆ­do

A primeira coisa a fazer Ć© construir uma viga sobre a qual as cavernas serĆ£o posicionadas. Utilizei a mesma coluna usada na construĆ§Ć£o do caiaque, com pequenas adaptaƧƵes. Sobre essa viga, posicionei as cavernas. Estas precisam estar alinhadas longitudinalmente, transversalmente e perpendicularmente. Ou seja, todas as cavernas precisam estar a 90Āŗ em relaĆ§Ć£o Ć  viga, tanto no sentido vertical quanto transversal. AlĆ©m do clĆ”ssico nĆ­vel de bolha (de pedreiro), tambĆ©m Ć© bem Ćŗtil os modernos nĆ­veis a laser. Uma vez todas as cavernas alinhadas e fixadas, pode-se iniciar a colocaĆ§Ć£o das ripinhas de madeira.


Moldagem dos perfis de proa e popa

Para terminar o esqueleto sobre o qual serĆ” construĆ­do o casco, Ć© preciso confeccionar os moldes de proa e popa. SĆ£o estruturas curvas sobre as quais todas as ripas que formam o casco terminam e sĆ£o fixadas. Esses moldes sĆ£o laminados com lĆ¢minas de madeiras de 3 mm de espessura cada. SĆ£o 3 lĆ¢minas para a parte interna e mais 3 para a parte externa (a ser colada externamente ao casco, uma vez pronto, para aumentar a rigidez). Como as lĆ¢minas terĆ£o de ser curvadas, recomenda-se mergulhar o conjunto de lĆ¢minas em Ć”gua quente para entĆ£o colocĆ”-las no molde de madeira e deixĆ”-las secar no molde. Secas, as lĆ¢minas conservam razoavelmente o formato curvo e facilitaram o processo de colagem. Deve-se colar as lĆ¢minas com cola feita de epĆ³xi (mistura de resina epĆ³xi com pĆ³ de serragem) e deixar curar na forma. Depois, fixar os moldes na forma com grampo de tapeceiro e alinhar no esqueleto.



ConstruĆ§Ć£o do casco

A primeira ripa a ser colocada Ć© a da borda, em cada lado. Coloquei a primeira com o lado convexo para cima, para facilitar a aplicaĆ§Ć£o de cola. A seqĆ¼ĆŖncia de colagem passa a ser: aplicaĆ§Ć£o de cola sobre o bojo convexo, encaixe da prĆ³xima ripa, fixaĆ§Ć£o com grampo de tapeceiro em cada caverna; e assim por diante. Foram colocadas 3 ripas de cada lado por vez. O processo todo Ć© rĆ”pido. O que dificulta sĆ£o as emendas de ripas, no caso do tamanho nĆ£o ser suficiente para o comprimento do barco. Neste caso, aconselho a usar emendas em Ć¢ngulo de 45Āŗ ou prĆ³ximo (nĆ£o usar emendas de topo, a 90Āŗ). DĆ” um pouco de trabalho, mas facilita muito usar uma forma de corte.



TambĆ©m Ć© necessĆ”rio acertar a finalizaĆ§Ć£o de cada ripa nos terminais de popa e proa. Lembrar que tanto o perfil de proa quanto de popa poderĆ£o ser revestidos depois com uma lĆ¢mina de madeira, para acabamento.



O processo de colagem das ripas se repete atĆ© o fechamento do casco. ApĆ³s, retira-se todos os grampos com um alicate e passa-se ao processo de acabamento de pequenos vĆ£os e lixamento para deixar toda a superfĆ­cie lisa e pronta para a fase de resinagem.

TambƩm se coloca o reforƧo externo na proa e na popa, lixando posteriomente.

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